Não é possível determinar ao certo o tamanho das consequências da 2ª Guerra Mundial, em meio a tantas perdas econômicas, políticas e, principalmente, sócio-culturais. Tal ocorrido jamais será esquecido, ainda que muitos prefiram negá-lo ou guardá-lo no íntimo da memória, seja por acharem-no doloroso, vergonhoso, revoltante, complicado, inacreditável. As atrocidades cometidas pelos nazistas nos campos de concentração alemães representam feridas de difícil cicatrização na história européia.
É mais fácil imaginar o sentimento das novas gerações de judeus ao pensarem em como seus antepassados tiveram seus bens desapropriados, sendo submetidos a cruéis torturas e a frias e calculistas mortes, do que pensar em como a geração subsequente de alemães encara tal fato. Esse tema faz parte do enredo do romance "O Leitor", de Bernhard Schlink, no qual o protagonista, um jovem alemão estudante de Direito, se envolve no julgamento de casos de crime da 2ª Guerra Mundial.
O ato de julgar fatos que não forão previamente presenciados e que estão inseridos num contexto histórico adverso do qual se vive é, sem dúvida, complexo e arriscado. À primeira vista, as gerações de alemães pós III Reich, ainda que não se sintam confortáveis sob a sombra de um passado do qual não participaram, tendem a condenar seus pais e avós à vergonha. Vergonha por terem consentido calados à ascenção nazista, ou por terem participado de alguma maneira do holocausto, ou ainda por aceitarem conviver junto aos antigos cárceres e generais nazistas.
Nenhum critério de julgamento é válido, porém, se não forem levadas em conta todas as irrelevâncias. Os argumentos devem ser claros e flexíveis para não se correr o risco de compor uma opinião meramente superficial. Talvez a situação tenha saído do controle e o sonho alemão de crescimento tenha, por isso, atropelado outras nações. Talvez a falta de perspectiva de um futuro tenha os levado a depositar a máxima confiança e esperança em um Führer que se revelou de uma doentia perseguição motivada por traumas pessoais ou por pura maldade e malícia, afinal alguém deveria assumir a culpa pelo declínio do país.
Vale ressaltar que o desejo de expansão era compartilhado por outras potências imperialistas e que a guerra foi consequência de diversos fatores, principalmente devido a questões mal resolvidas com o término da 1ª Guerra Mundial. É claro que nada justifica o genocídio cometido e as absurdas ações desumanas realizadas nos campos de concentração. Mas será que a maior parte dos alemães poderia ter previsto tais fatos? Não teriam ficado também surpresos com o rumo tomado pelos que estavam no poder? Talvez tivesse sido tarde demais e já estava fora do alcance da população parar a guerra. À nova geração alemã restam apenas suposições a serem feitas. Se o passado lhes embaraça e incomoda, nunca é tarde para auxiliar a amenizar os reflexos do que se passou.
Thatiane C. Pires
(Breve reflexão literária e comentários sobre a temática do livro "O Leitor", de Bernhard Schlink)
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