Quem nunca teve a oportunidade de ir a um concerto de música, certamente ainda não descobriu um dos prazeres mais singulares, profundos e sinestésicos, ouso dizer até, quase surreais. Daqueles prazeres que reviram os sentidos. Demasiados adjetivos, será? Se deixamo-nos envolver por completo pela beleza da sinfonia, ao chegarmos ao allegretto final, já não distinguimos mais o chão do teto.
Ao início, suavemente os metais cantam como passarinhos. É como se a Chapeuzinho Vermelho colhesse flores para a Vovozinha, enquanto caminhava pelo bosque. Porém, tudo que está calmo demais, tranquilo demais, assim não permanece por muito mais tempo - principalmente se estamos no início do concerto.
Quando o tímpano troveja, um arrepio sobre a espinha. É quando o Lobo Mau ataca a Vovozinha. não me interpreta mal, leitor. O que estou tentando expressar por essas palavras, aparentemente sem coerência, é o quão perfeita a música instrumental pode ser enquanto linguagem. Quanto pode ser expresso, quanto pode ser dito através das vibrações das cordas, quantas podem ser as interpretações?
Uma composição alemã pode muito bem agradar os ouvidos argentinos, assim como a música coreana pode ser desfrutada por um norueguês. Para que a linguagem universal funcione, basta um executor - um músico - e um ouvinte. É claro que o significado da música expressa pode não ser o mesmo da assimilada. Aí aparecem as diversas interpretações atribuídas a uma mesma melodia.
Agora, já não tenho mais receios de ser mal entendida. Posso jurar ter visto - em minha imaginação, caso ainda não esteja claro - o nascimento de minha irmã, quando a orquestra chegou ao ápice, ao extremo brilho, à explosão de tons e nuances de um acorde maior de grande intensidade e harmonia, onde o profundo som dos metais e madeiras reunidos invadiu, sem receio nem pudor, todo o meu corpo.
No desfecho, tanto da sinfonia como do texto, cabe ao compositor dar seu toque final. Cabe a ele a resolução trágica, alegre, extasiante ou, no mínimo, dramática. Para mim, após o bosque, a Chapeuzinho, o Lobo Mau e o nascimento, veio o poente e, como em chamas, praticamente sem fôlego, o espetáculo acabou.
Thatiane C. Pires
Ao início, suavemente os metais cantam como passarinhos. É como se a Chapeuzinho Vermelho colhesse flores para a Vovozinha, enquanto caminhava pelo bosque. Porém, tudo que está calmo demais, tranquilo demais, assim não permanece por muito mais tempo - principalmente se estamos no início do concerto.
Quando o tímpano troveja, um arrepio sobre a espinha. É quando o Lobo Mau ataca a Vovozinha. não me interpreta mal, leitor. O que estou tentando expressar por essas palavras, aparentemente sem coerência, é o quão perfeita a música instrumental pode ser enquanto linguagem. Quanto pode ser expresso, quanto pode ser dito através das vibrações das cordas, quantas podem ser as interpretações?
Uma composição alemã pode muito bem agradar os ouvidos argentinos, assim como a música coreana pode ser desfrutada por um norueguês. Para que a linguagem universal funcione, basta um executor - um músico - e um ouvinte. É claro que o significado da música expressa pode não ser o mesmo da assimilada. Aí aparecem as diversas interpretações atribuídas a uma mesma melodia.
Agora, já não tenho mais receios de ser mal entendida. Posso jurar ter visto - em minha imaginação, caso ainda não esteja claro - o nascimento de minha irmã, quando a orquestra chegou ao ápice, ao extremo brilho, à explosão de tons e nuances de um acorde maior de grande intensidade e harmonia, onde o profundo som dos metais e madeiras reunidos invadiu, sem receio nem pudor, todo o meu corpo.
No desfecho, tanto da sinfonia como do texto, cabe ao compositor dar seu toque final. Cabe a ele a resolução trágica, alegre, extasiante ou, no mínimo, dramática. Para mim, após o bosque, a Chapeuzinho, o Lobo Mau e o nascimento, veio o poente e, como em chamas, praticamente sem fôlego, o espetáculo acabou.
Thatiane C. Pires